“O inimigo era uniformizado, hoje veste toga”, diz Hamilton Pereira ao lançar livro sobre ditadura




O período histórico marcado pela ditadura militar motivou um momento de reflexão hoje na Câmara dos Deputados, durante o lançamento do livro “A Repressão Policial-Militar no Brasil – O livro chamado João”. Dois dos nove autores da obra, Hamilton Pereira (Pedro Tierra) e José Carlos Vidal, estavam presentes na cerimônia e relataram, com emoção, as condições em que a obra foi elaborada em pleno regime militar. Ao mesmo tempo, traçaram um paralelo com a situação política atual do País.

“Esse livro é, em grande medida, um testemunho. Mas é, antes de tudo, uma tentativa de compreender a profundidade da tragédia que significou o golpe militar de 64, um cenário de horrores que se arrastou ao longo de 21 anos”, descreveu Hamilton Pereira.

Para ele, o livro pode contribuir na elucidação das recentes denúncias feitas pela CIA sobre a política de repressão durante a ditadura militar brasileira. “O livro oferecerá uma contribuição importante para elucidar isso, para desmistificar uma construção historiográfica de que a violência do regime era obra dos porões”, ressaltou.

O autor acredita que essa tarefa de desmistificar certos fatos será fundamental para que se possa desnudar o golpe parlamentar de 2016. “Essa é uma tarefa infinitamente mais difícil, porque é mais complexa. Uma coisa é a ditadura da farda, do canhão do fuzil, onde muitas vezes nos víamos, à época, que o inimigo era uniformizado. Hoje não, hoje o inimigo veste toga”, lamentou.

Para José Carlos Vidal o livro é um sobrevivente, tendo em vista as condições de cárcere em que foi escrito. “O livro foi elaborado na prisão em plena ditadura empresarial militar brasileira, sujeito a riscos diuturnos de apreensão por parte dos carcereiros e represálias a todos os presos políticos por conta disso. Ele sobreviveu a tudo isso”, orgulhou-se.

Sobre a atualidade da obra, Vidal destacou as semelhanças deste momento com a época em que foi elaborado. “O livro traz uma contribuição para entender a nossa história, e com ela tirar lições que serão fundamentais para eliminar algo que está surgindo agora na nossa cena política, que é o fascismo”, observou.

“O fascismo existiu na época em que ele foi elaborado aqui no Brasil. Ele está de volta. É muito preocupante isso. É preciso que nós tenhamos muita atenção, cuidado e muito foco nesse problema porque é inimigo fundamental de qualquer proposta de avanço político no País. Temos vários exemplos a respeito dessa emergência do fascismo no Brasil, e é preciso correr para matar o ovo da serpente”, alertou José Carlos Vidal.



Ao discursar em nome da Bancada do PT, o líder Paulo Lula Pimenta (PT-RS) exaltou a importância da obra. “Esse livro traz, além de um conteúdo fundamental de ser conhecido e debatido por nós, um testemunho de coragem, de ousadia, de desprendimento, porque foi uma obra escrita durante esse período bárbaro de intensa crueldade da ditadura militar no Brasil”, afirmou Pimenta.

Diante das últimas revelações feita pela CIA acerca desse período sombrio brasileiro, o deputado petista defendeu a necessidade de um debate profundo no Brasil sobre a ditadura militar. “Esse debate se torna um imperativo moral e ético. Os documentos que vieram a público nos últimos dias revelam uma relação subserviente do governo militar brasileiro com os EUA, que nos coloca no centro das definições e decisões a respeito das torturas e das execuções da ditadura. Isso  precisa ser conhecido em toda sua profundidade e compreendido na sua importância”, defendeu.

Benildes Rodrigues
Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara

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