Artigo do governador Agnelo Queiroz: Resistindo ao crime organizado
Os tentáculos dessa engrenagem envolvem empresários, políticos e prepostos em veículos de comunicação. As interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça e formalizadas nos autos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, revelam os interesses desse grupo no DF: o lixo e a bilhetagem eletrônica nos serviços de transporte. Em nenhuma dessas áreas a organização de Carlos Cachoeira conseguiu alcançar suas ambições.
No que tange ao lixo, a participação da empresa Delta Construtora na execução da coleta foi determinada pela Justiça ainda no governo anterior. Na minha gestão, não houve o patrocínio de qualquer indicação de pessoa desse grupo para cargos no governo. Ao contrário do que foi divulgado de forma cirúrgica e seletiva, a minha postura foi a de determinar auditoria no contrato em vigor, impor novos padrões de fiscalização sobre os serviços e reter o pagamento de despesas sem comprovação ou fundamento.
Os contraventores, em diálogos flagrados pela polícia, reclamavam dessas atitudes. Inconformados, decidiram tramar pela queda de um governante democraticamente eleito pelo povo. A audácia dessa engrenagem institucional voltada ao crime pretendia subverter até a legitimidade do voto popular.
Além da postura firme do meu governo no setor da coleta de lixo, na área de transporte as ações também perseguiram a legalidade e a probidade administrativa. Pela primeira vez na história da capital, realiza-se uma licitação pública para atrair novos operadores para os serviços de ônibus. Com novos ônibus e novos operadores, teremos, então, condição de estudar como será realizado o serviço de bilhetagem eletrônica. Ou seja, na área de transporte, executamos uma política de Estado com transparência e legalidade jamais vistas no DF.
Prejudicados no terreno da gestão, os contraventores de Goiás articularam-se com o crime organizado de Brasília e passaram a exercer suas conexões na política e na mídia. Criaram um clima artificial de denúncias e de acusações contra a pessoa do governador com o intuito claro de desestabilizar o governo.
Textos publicados mais recentemente em alguns veículos da internet revelam que meu nome é o centro das conversas mantidas entre o sargento Idalberto Matias, conhecido como Dadá, e o contraventor Carlos Cachoeira. Em certo momento da conversa, calcula o vulgo Dadá: "Pro cara cair é três, quatro meses".
Dadá avalia com Cachoeira a participação do senador Demóstenes Torres (DEM) no processo de desconstrução da minha reputação pessoal, até que se atinja o objetivo final de me tirar do governo. Eles chegam à conclusão de que, em vez de usar dossiês de opositores, deveriam aguardar uma suposta denúncia que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, estaria prestes a apresentar.
Diz um dos contraventores: "O cara vai ser denunciado mesmo lá na frente, entendeu, e aí a gente tem argumento para dizer ó... o cara (Demóstenes) tá fazendo o papel dele na oposição". Esse diálogo é atribuído ao vulgo Dadá. Fica patente e cristalina a extensão e a capacidade operacional dessa organização para o crime e para a destruição de reputações.
Brasília e o meu governo têm conseguido resistir e superar todas essas investidas do crime organizado. Executamos uma nova agenda. Nela, transparência e ética pública, saúde, investimento social e a recuperação da dignidade da capital federal são prioridades. Há ainda muito trabalho a ser realizado para melhorar a vida da população do DF. Mas o primeiro e mais extenuante deles até aqui está sendo a guerra que começamos a vencer contra o crime organizado, derrotado nas últimas eleições, e que se havia incrustado no poder público na capital do nosso país.
*Governador do Distrito Federal
Artigo publicado originalmente no jornal Correio Braziliense - edição 16/05/12
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